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CUNENE: LEGADOS DA LUTA DE RESISTÊNCIA: RECORDAÇÕES E REFLEXÕES Sempre que retorno à província do Cunene, seja em missão de serviço, do Partido ou do Grupo Parlamentar, como aconteceu, entre os dias 8 e 13 de Abril de 2014, durante as jornadas de ascultação parlamentar às comunidades, seja em trânsito para a vizinha República da Namíbia, lembro-me, como se fosse hoje, dos tempos que vivi nessa provincia, entre os anos de 1976 e 1978, em plena guerra civil. Durante esse período crítico, servi, não apenas como comandante militar das FALA, mas também como comissário político; papel que desempenhei com zelo e espírito de missão , graças a sólida base política que nos sustentava. Durante essa época, trabalhei por algum tempo, ao lado de António Vakulukuta. Estivemos juntos nas bases militares de Yonde, Embundu, Cafima, Honjekekela, Onhawe e Ochitumba, que faziam parte da região militar 65. António Vakulukuta era notavelmente culto, dotado de uma inteligência sem igual e um instinto para liderança inquestionável. Proveniente da nobreza local, destacava-se como uma figura de elite. Tinha uma personalidade marcante e era profundamente respeitado pelo seu povo. Era um fervoroso nacionalista, com uma sólida formação superior e uma forte convicção política, forjada pelas ideais de esquerda. Durante os seus estudos na Europa, tornara-se membro activo da FEANF ( Federação de Estudantes Africanos em França), próxima do Partido Comunista Frances, evidenciando, assim, a sua paixão e o seu comprometimento com a causa da luta pela liberdade dos povos oprimidos pelo colonialismo em África e em Angola em particular. De volta ao país, empunhou armas em defesa da dignidade dos povos de Angola. Emergiu, desse modo, como uma figura central na resistência liderada pela UNITA. Foi vítima de contradições internas, sem que isso belisque o legado que deixou sobre a luta pela liberdade, independencia e democracia em Angola. Nesse período, a província do Cunene, sob comando do General Samuel Chiwale, era um teatro de intensa atividade política e militar. As forças militares da SWAPO, das FAPLA e de CUBA apoiadas por forças militares katanguesas, nigerianas e do Congo Brazzaville, lançavam-se em ofensivas contras as bases da UNITA. Nessa conjuntura, a minha função exigia não apenas perspicácia militar, mas também habilidade de navegar na complexidade das dinámicas locais, no domínio cultural, social e politico. Foi um período de grande desafio, mas também de oportunidades únicas para construir pontes entre os diferentes subgrupos etno-linguísticos da região, entre os handas, nyaneka, nganguela, ovimbundu, cuissis, cuepes, vassekeles, chokwes, helelos, muilas, e outros. As amizades que aí forjei foram moldadas por experiências de cooperação, no contexto dessa diversidade cultural. De facto, no ambito dos desafios da guerra e da política, emergiu um sentido profundo de camaradagem e lealdade. Essas amizades, nascidas em circunstâncias excepcionais, revelaram-se como fortes pilares, na consolidação da nossa resiliência naqueles momentos desafiantes. Elas mantêm-se sólidas até os dias de hoje. A província do Cunene, com sua paisagem única, deixou em mim uma marca indelével. Os laços que aí criei, não são apenas pessoais. Estão enraizados profundamente nas vivências comuns que compartilhamos naqueles anos difíceis . Essas relações continuam a ser uma fonte de força e de inspiração. Reafirmam o valor inestimável da solidariedade humana e da compreensão mútua. Ao revisitar o Cunene, não posso deixar de reflectir sobre o quanto essa região e as suas comunidades etno-linguísticas contribuíram para a luta pela democracia. As lições aprendidas aqui, nessa época, tanto nas frentes de batalha, quanto na diplomacia política, são inestimáveis e continuam a influenciar a minha actuação como militante do Partido. A cada visita, renovo o meu compromisso em servir, com a mesma dedicação e integridade, os povos da região. Por isso, as minhas viagens ao Cunene, além de obedeceram as agendas do Partido, são também peregrinações pessoais ao coração das memórias que moldaram quem sou hoje. Dito por outras palavras, são forma de viagens pessoais em busca de significado e crescimento pessoal. Elas lembram-me à complexidade da guerra e da política, mas, mais importante ainda, à capacidade humana de forjar laços de amizade e solidariedade duradouros, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. ENCONTRO COM SUA MAJESTADE O encontro com o Rei dos Kwanhamas, Jerónimo Haleinge, teve lugar no dia 9 deste mês. Decorreu no salão nobre do palácio real. Um local cheio de labirintos, construídos com paus a pique, onde ardia uma fogueira que consumia lentamente a lenha seca, colocada com uma certa ordem. Foi uma lição para a vida. O rei falou-nos do significado sobre o cuidar do fogo nos espaços nobres do palácio do poder real tradicional. Uma tradição africana que carrega um simbolismo profundo que entrelaça o espiritual, o social e o político. Mesmo no seio das comunidades etno-linguísticas, do planalto central de Angola, “ okutata o ndalu” , considera-se o fogo como um mediador, entre o mundo dos vivos e o espiritual, servindo como um meio de comunicação com os ancestrais. Manter o fogo aceso no palácio sugere uma ligação constante e uma comunicação contínua à ancestralidade, como forma de assegurar a protecção, orientação e bênçãos para a comunidade. Acredita-se que o fogo, simbolizado na fogueira que arde, mesmo dissimulado nas cinzas, contribui para limpar o espaço de energias negativas ou maléficas. Em muitos rituais, o fogo simboliza a renovação, a transformação e a purificação, tanto do espaço físico, quanto do espiritual, preparando-o para novos inícios. Simboliza, de facto, a continuidade e a perpetuidade do poder tradicional, da linhagem e das tradições. Alcides Sakala
25 DE ABRIL: A REVOLUÇÃO DOS CRAVOS E O DESPERTAR DE UMA GERAÇÃO EM ANGOLA.
“O Combate à Fome: Um Apelo à Coesão e Transformação em Angola”
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António Vakulukuta era notavelmente culto, dotado de uma inteligência sem igual e um instinto para liderança inquestionável. Proveniente da nobreza local, destacava-se como uma figura de elite. Tinha uma personalidade marcante e era profundamente respeitado pelo seu povo. Era um fervoroso nacionalista, com uma sólida formação superior e uma forte convicção política, forjada pelas ideais de esquerda. Durante os seus estudos na Europa, tornara-se membro activo da FEANF ( Federação de Estudantes Africanos em França), próxima do Partido Comunista Frances, evidenciando, assim, a sua paixão e o seu comprometimento com a causa da luta pela liberdade dos povos oprimidos pelo colonialismo em África e em Angola em particular. De volta ao país, empunhou armas em defesa da dignidade dos povos de Angola. Emergiu, desse modo, como uma figura central na resistência liderada pela UNITA. Foi vítima de contradições internas, sem que isso belisque o legado que deixou sobre a luta pela liberdade, independencia e democracia em Angola. Nesse período, a província do Cunene, sob comando do General Samuel Chiwale, era um teatro de intensa atividade política e militar. As forças militares da SWAPO, das FAPLA e de CUBA apoiadas por forças militares katanguesas, nigerianas e do Congo Brazzaville, lançavam-se em ofensivas contras as bases da UNITA. Nessa conjuntura, a minha função exigia não apenas perspicácia militar, mas também habilidade de navegar na complexidade das dinámicas locais, no domínio cultural, social e politico. Foi um período de grande desafio, mas também de oportunidades únicas para construir pontes entre os diferentes subgrupos etno-linguísticos da região, entre os handas, nyaneka, nganguela, ovimbundu, cuissis, cuepes, vassekeles, chokwes, helelos, muilas, e outros. As amizades que aí forjei foram moldadas por experiências de cooperação, no contexto dessa diversidade cultural. De facto, no ambito dos desafios da guerra e da política, emergiu um sentido profundo de camaradagem e lealdade. Essas amizades, nascidas em circunstâncias excepcionais, revelaram-se como fortes pilares, na consolidação da nossa resiliência naqueles momentos desafiantes. Elas mantêm-se sólidas até os dias de hoje. A província do Cunene, com sua paisagem única, deixou em mim uma marca indelével. Os laços que aí criei, não são apenas pessoais. Estão enraizados profundamente nas vivências comuns que compartilhamos naqueles anos difíceis . Essas relações continuam a ser uma fonte de força e de inspiração. Reafirmam o valor inestimável da solidariedade humana e da compreensão mútua. Ao revisitar o Cunene, não posso deixar de reflectir sobre o quanto essa região e as suas comunidades etno-linguísticas contribuíram para a luta pela democracia. As lições aprendidas aqui, nessa época, tanto nas frentes de batalha, quanto na diplomacia política, são inestimáveis e continuam a influenciar a minha actuação como militante do Partido. A cada visita, renovo o meu compromisso em servir, com a mesma dedicação e integridade, os povos da região. Por isso, as minhas viagens ao Cunene, além de obedeceram as agendas do Partido, são também peregrinações pessoais ao coração das memórias que moldaram quem sou hoje. Dito por outras palavras, são forma de viagens pessoais em busca de significado e crescimento pessoal. Elas lembram-me à complexidade da guerra e da política, mas, mais importante ainda, à capacidade humana de forjar laços de amizade e solidariedade duradouros, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. ENCONTRO COM SUA MAJESTADE O encontro com o Rei dos Kwanhamas, Jerónimo Haleinge, teve lugar no dia 9 deste mês. Decorreu no salão nobre do palácio real. Um local cheio de labirintos, construídos com paus a pique, onde ardia uma fogueira que consumia lentamente a lenha seca, colocada com uma certa ordem. Foi uma lição para a vida. O rei falou-nos do significado sobre o cuidar do fogo nos espaços nobres do palácio do poder real tradicional. Uma tradição africana que carrega um simbolismo profundo que entrelaça o espiritual, o social e o político. Mesmo no seio das comunidades etno-linguísticas, do planalto central de Angola, “ okutata o ndalu” , considera-se o fogo como um mediador, entre o mundo dos vivos e o espiritual, servindo como um meio de comunicação com os ancestrais. Manter o fogo aceso no palácio sugere uma ligação constante e uma comunicação contínua à ancestralidade, como forma de assegurar a protecção, orientação e bênçãos para a comunidade. Acredita-se que o fogo, simbolizado na fogueira que arde, mesmo dissimulado nas cinzas, contribui para limpar o espaço de energias negativas ou maléficas. Em muitos rituais, o fogo simboliza a renovação, a transformação e a purificação, tanto do espaço físico, quanto do espiritual, preparando-o para novos inícios. Simboliza, de facto, a continuidade e a perpetuidade do poder tradicional, da linhagem e das tradições. Alcides Sakala

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António Vakulukuta era notavelmente culto, dotado de uma inteligência sem igual e um instinto para liderança inquestionável. Proveniente da nobreza local, destacava-se como uma figura de elite. Tinha uma personalidade marcante e era profundamente respeitado pelo seu povo. Era um fervoroso nacionalista, com uma sólida formação superior e uma forte convicção política, forjada pelas ideais de esquerda. Durante os seus estudos na Europa, tornara-se membro activo da FEANF ( Federação de Estudantes Africanos em França), próxima do Partido Comunista Frances, evidenciando, assim, a sua paixão e o seu comprometimento com a causa da luta pela liberdade dos povos oprimidos pelo colonialismo em África e em Angola em particular. De volta ao país, empunhou armas em defesa da dignidade dos povos de Angola. Emergiu, desse modo, como uma figura central na resistência liderada pela UNITA. Foi vítima de contradições internas, sem que isso belisque o legado que deixou sobre a luta pela liberdade, independencia e democracia em Angola. Nesse período, a província do Cunene, sob comando do General Samuel Chiwale, era um teatro de intensa atividade política e militar. As forças militares da SWAPO, das FAPLA e de CUBA apoiadas por forças militares katanguesas, nigerianas e do Congo Brazzaville, lançavam-se em ofensivas contras as bases da UNITA. Nessa conjuntura, a minha função exigia não apenas perspicácia militar, mas também habilidade de navegar na complexidade das dinámicas locais, no domínio cultural, social e politico. Foi um período de grande desafio, mas também de oportunidades únicas para construir pontes entre os diferentes subgrupos etno-linguísticos da região, entre os handas, nyaneka, nganguela, ovimbundu, cuissis, cuepes, vassekeles, chokwes, helelos, muilas, e outros. As amizades que aí forjei foram moldadas por experiências de cooperação, no contexto dessa diversidade cultural. De facto, no ambito dos desafios da guerra e da política, emergiu um sentido profundo de camaradagem e lealdade. Essas amizades, nascidas em circunstâncias excepcionais, revelaram-se como fortes pilares, na consolidação da nossa resiliência naqueles momentos desafiantes. Elas mantêm-se sólidas até os dias de hoje. A província do Cunene, com sua paisagem única, deixou em mim uma marca indelével. Os laços que aí criei, não são apenas pessoais. Estão enraizados profundamente nas vivências comuns que compartilhamos naqueles anos difíceis . Essas relações continuam a ser uma fonte de força e de inspiração. Reafirmam o valor inestimável da solidariedade humana e da compreensão mútua. Ao revisitar o Cunene, não posso deixar de reflectir sobre o quanto essa região e as suas comunidades etno-linguísticas contribuíram para a luta pela democracia. As lições aprendidas aqui, nessa época, tanto nas frentes de batalha, quanto na diplomacia política, são inestimáveis e continuam a influenciar a minha actuação como militante do Partido. A cada visita, renovo o meu compromisso em servir, com a mesma dedicação e integridade, os povos da região. Por isso, as minhas viagens ao Cunene, além de obedeceram as agendas do Partido, são também peregrinações pessoais ao coração das memórias que moldaram quem sou hoje. Dito por outras palavras, são forma de viagens pessoais em busca de significado e crescimento pessoal. Elas lembram-me à complexidade da guerra e da política, mas, mais importante ainda, à capacidade humana de forjar laços de amizade e solidariedade duradouros, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. ENCONTRO COM SUA MAJESTADE O encontro com o Rei dos Kwanhamas, Jerónimo Haleinge, teve lugar no dia 9 deste mês. Decorreu no salão nobre do palácio real. Um local cheio de labirintos, construídos com paus a pique, onde ardia uma fogueira que consumia lentamente a lenha seca, colocada com uma certa ordem. Foi uma lição para a vida. O rei falou-nos do significado sobre o cuidar do fogo nos espaços nobres do palácio do poder real tradicional. Uma tradição africana que carrega um simbolismo profundo que entrelaça o espiritual, o social e o político. Mesmo no seio das comunidades etno-linguísticas, do planalto central de Angola, “ okutata o ndalu” , considera-se o fogo como um mediador, entre o mundo dos vivos e o espiritual, servindo como um meio de comunicação com os ancestrais. Manter o fogo aceso no palácio sugere uma ligação constante e uma comunicação contínua à ancestralidade, como forma de assegurar a protecção, orientação e bênçãos para a comunidade. Acredita-se que o fogo, simbolizado na fogueira que arde, mesmo dissimulado nas cinzas, contribui para limpar o espaço de energias negativas ou maléficas. Em muitos rituais, o fogo simboliza a renovação, a transformação e a purificação, tanto do espaço físico, quanto do espiritual, preparando-o para novos inícios. Simboliza, de facto, a continuidade e a perpetuidade do poder tradicional, da linhagem e das tradições. Alcides Sakala

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António Vakulukuta era notavelmente culto, dotado de uma inteligência sem igual e um instinto para liderança inquestionável. Proveniente da nobreza local, destacava-se como uma figura de elite. Tinha uma personalidade marcante e era profundamente respeitado pelo seu povo. Era um fervoroso nacionalista, com uma sólida formação superior e uma forte convicção política, forjada pelas ideais de esquerda. Durante os seus estudos na Europa, tornara-se membro activo da FEANF ( Federação de Estudantes Africanos em França), próxima do Partido Comunista Frances, evidenciando, assim, a sua paixão e o seu comprometimento com a causa da luta pela liberdade dos povos oprimidos pelo colonialismo em África e em Angola em particular. De volta ao país, empunhou armas em defesa da dignidade dos povos de Angola. Emergiu, desse modo, como uma figura central na resistência liderada pela UNITA. Foi vítima de contradições internas, sem que isso belisque o legado que deixou sobre a luta pela liberdade, independencia e democracia em Angola. Nesse período, a província do Cunene, sob comando do General Samuel Chiwale, era um teatro de intensa atividade política e militar. As forças militares da SWAPO, das FAPLA e de CUBA apoiadas por forças militares katanguesas, nigerianas e do Congo Brazzaville, lançavam-se em ofensivas contras as bases da UNITA. Nessa conjuntura, a minha função exigia não apenas perspicácia militar, mas também habilidade de navegar na complexidade das dinámicas locais, no domínio cultural, social e politico. Foi um período de grande desafio, mas também de oportunidades únicas para construir pontes entre os diferentes subgrupos etno-linguísticos da região, entre os handas, nyaneka, nganguela, ovimbundu, cuissis, cuepes, vassekeles, chokwes, helelos, muilas, e outros. As amizades que aí forjei foram moldadas por experiências de cooperação, no contexto dessa diversidade cultural. De facto, no ambito dos desafios da guerra e da política, emergiu um sentido profundo de camaradagem e lealdade. Essas amizades, nascidas em circunstâncias excepcionais, revelaram-se como fortes pilares, na consolidação da nossa resiliência naqueles momentos desafiantes. Elas mantêm-se sólidas até os dias de hoje. A província do Cunene, com sua paisagem única, deixou em mim uma marca indelével. Os laços que aí criei, não são apenas pessoais. Estão enraizados profundamente nas vivências comuns que compartilhamos naqueles anos difíceis . Essas relações continuam a ser uma fonte de força e de inspiração. Reafirmam o valor inestimável da solidariedade humana e da compreensão mútua. Ao revisitar o Cunene, não posso deixar de reflectir sobre o quanto essa região e as suas comunidades etno-linguísticas contribuíram para a luta pela democracia. As lições aprendidas aqui, nessa época, tanto nas frentes de batalha, quanto na diplomacia política, são inestimáveis e continuam a influenciar a minha actuação como militante do Partido. A cada visita, renovo o meu compromisso em servir, com a mesma dedicação e integridade, os povos da região. Por isso, as minhas viagens ao Cunene, além de obedeceram as agendas do Partido, são também peregrinações pessoais ao coração das memórias que moldaram quem sou hoje. Dito por outras palavras, são forma de viagens pessoais em busca de significado e crescimento pessoal. Elas lembram-me à complexidade da guerra e da política, mas, mais importante ainda, à capacidade humana de forjar laços de amizade e solidariedade duradouros, mesmo nas circunstâncias mais difíceis. ENCONTRO COM SUA MAJESTADE O encontro com o Rei dos Kwanhamas, Jerónimo Haleinge, teve lugar no dia 9 deste mês. Decorreu no salão nobre do palácio real. Um local cheio de labirintos, construídos com paus a pique, onde ardia uma fogueira que consumia lentamente a lenha seca, colocada com uma certa ordem. Foi uma lição para a vida. O rei falou-nos do significado sobre o cuidar do fogo nos espaços nobres do palácio do poder real tradicional. Uma tradição africana que carrega um simbolismo profundo que entrelaça o espiritual, o social e o político. Mesmo no seio das comunidades etno-linguísticas, do planalto central de Angola, “ okutata o ndalu” , considera-se o fogo como um mediador, entre o mundo dos vivos e o espiritual, servindo como um meio de comunicação com os ancestrais. Manter o fogo aceso no palácio sugere uma ligação constante e uma comunicação contínua à ancestralidade, como forma de assegurar a protecção, orientação e bênçãos para a comunidade. Acredita-se que o fogo, simbolizado na fogueira que arde, mesmo dissimulado nas cinzas, contribui para limpar o espaço de energias negativas ou maléficas. Em muitos rituais, o fogo simboliza a renovação, a transformação e a purificação, tanto do espaço físico, quanto do espiritual, preparando-o para novos inícios. Simboliza, de facto, a continuidade e a perpetuidade do poder tradicional, da linhagem e das tradições. Alcides Sakala

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