Perita da ONU expõe miséria e falência social de Angola em relatório aberto para o mundo

Especialista da ONU denuncia condições desumanas e crises severas, apontando Angola como um país à beira do colapso social e económico.

PONTUAL, fonte credível de informação.

Num relatório preliminar devastador, a perita independente das Nações Unidas, Attiya Waris, destacou uma série de problemas críticos que assolam Angola, revelando um panorama sombrio de pobreza extrema, desigualdades alarmantes e falhas gritantes nos sistemas de saúde e educação. O documento foi apresentado esta Quarta-feira, após uma visita de dez dias ao país.

“Angola pode ter alcançado uma estabilidade política relativa após 27 anos de guerra civil, mas a fragilidade socioeconómica continua a ser uma realidade avassaladora”, afirmou Waris. A perita sublinhou que a dependência excessiva do sector petrolífero deixou a economia angolana vulnerável a choques externos, resultando numa limitada diversificação económica e instabilidade macroeconómica.

A falta de investimento em sectores sociais durante administrações anteriores agravou a situação. “Mais de 25% das crianças em idade escolar não estão matriculadas, perpetuando um ciclo vicioso de pobreza intergeracional”, declarou Waris. Com uma parte significativa da população vivendo com menos de um dólar por dia, as condições de vida nos bairros informais são descritas como deploráveis, sem acesso a alimentos, água potável, saneamento ou electricidade.

A situação é ainda mais crítica no sul do país, onde a seca, exacerbada pelas alterações climáticas, deixou 31,2% da população em situação de insegurança alimentar grave em 2023. A desnutrição afeta cerca de 43,6% das crianças angolanas com menos de cinco anos, indicando falhas graves na protecção social.

Além disso, Waris alertou para a prevalência de violência doméstica, abuso infantil, trabalho forçado e tráfico sexual. A falta de transparência e responsabilidade nas finanças públicas foi igualmente criticada, com orçamentos e despesas do governo fora do alcance dos cidadãos.

“O programa de merenda escolar não é executado de forma consistente e aumenta antes das eleições, diminuindo depois delas”, observou Waris, criticando a politização dos programas alimentares.

O relatório recomenda uma reavaliação dos subsídios aos combustíveis, que têm exacerbado a crise ao aumentar os preços dos alimentos básicos. “Os preços dos ovos, uma fonte crucial de proteínas para as crianças, aumentaram cerca de 400%,” destacou Waris.

Em resposta, o governo angolano foi encorajado a continuar a localizar e recuperar bens ilegalmente retirados do país e a envolver mais os cidadãos na tomada de decisões financeiras. Waris também sugeriu incentivos à utilização de serviços bancários móveis para reduzir a economia baseada em numerário.

O relatório final será apresentado na 58.ª sessão do Conselho dos Direitos Humanos da ONU, em Março de 2025, e promete manter a pressão sobre o governo angolano para enfrentar estas crises humanitárias e sociais que colocam a nação à beira do abismo.

Jose Juliano

Jose Juliano

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