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Entre Heranças e Horizontes: O Comércio Angolano e os Desafios da Diversificação

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Entre Heranças e Horizontes: O Comércio Angolano e os Desafios da Diversificação

O comércio angolano é um espelho das múltiplas fases que marcaram a história do país — desde as redes pré-coloniais de trocas entre povos africanos, passando pelo impacto devastador do tráfico atlântico de escravizados, até a atual busca por modernização e integração económica regional. O presente do comércio em Angola não pode ser compreendido sem considerar essas heranças profundas, mas também aponta para novos horizontes impulsionados por reformas, oportunidades e desafios próprios do século XXI.

Historicamente, Angola foi um centro comercial estratégico na África subsaariana. Povos como os Ovimbundu, Ambundu, Kongo e Lunda-Chokwe estabeleceram rotas e mercados internos que interligavam o interior ao litoral, comercializando produtos como sal, ferro, marfim, gado, mel e tecidos. Com a chegada dos europeus, principalmente os portugueses, essas redes foram profundamente alteradas: o tráfico de escravizados tornou-se a principal forma de comércio exterior, com implicações sociais e económicas devastadoras.

Durante o período colonial, o modelo económico implantado favoreceu a monocultura de exportação (café, algodão, borracha) e a importação de bens manufaturados da metrópole, consolidando uma estrutura económica dependente e excludente. Após a independência, em 1975, e o longo período de guerra civil, Angola passou a concentrar sua economia quase exclusivamente na exportação de petróleo e diamantes, deixando o país vulnerável à instabilidade dos preços internacionais desses recursos.

Nas últimas duas décadas, especialmente após o fim do conflito armado em 2002, Angola tem procurado diversificar a sua economia e o seu comércio exterior. Isso inclui o estímulo à produção agrícola, ao setor pesqueiro, à indústria transformadora e aos serviços. No entanto, esse processo enfrenta obstáculos estruturais, como:

  • Dependência excessiva do petróleo, que ainda representa mais de 90% das exportações;

  • Infraestrutura logística limitada, o que encarece o transporte de mercadorias;

  • Excesso de burocracia aduaneira e entraves legais, que dificultam o empreendedorismo;

  • Baixa competitividade da produção nacional, frente a produtos importados mais baratos.

O governo tem apostado em programas de incentivo à produção local, como o Plano de Desenvolvimento Nacional e o Programa de Apoio à Produção, Diversificação das Exportações e Substituição das Importações (PRODESI). Além disso, a integração de Angola em blocos como a SADC e a Zona de Comércio Livre Continental Africana (AfCFTA) abre novas possibilidades para aumentar as exportações não petrolíferas e estabelecer cadeias de valor regionais.

Outro fator importante é o crescimento do comércio informal, especialmente nas zonas urbanas, que apesar de carecer de regulamentação, cumpre um papel social essencial na criação de emprego e distribuição de bens. Incorporar esse setor de forma inteligente e gradual pode ser uma chave para a inclusão económica e a dinamização do mercado interno.

Portanto, os desafios da diversificação comercial em Angola são grandes, mas não intransponíveis. Eles exigem vontade política, investimento em educação e infraestrutura, desburocratização, inovação e uma aposta real na juventude angolana. O comércio pode e deve ser um dos motores do desenvolvimento sustentável do país, se for tratado como parte de uma visão integrada e de longo prazo.

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