O dia 27 de Maio de 1977 permanece como uma das datas mais dolorosas da história contemporânea do nosso país. Foi nesse dia que se iniciou um processo trágico, resultante de tensões políticas internas no seio do MPLA que culminou no maior massacre político já vivido no país desde a independência. Milhares de angolanos civis, militares, militantes e simpatizantes, foram perseguidos, presos, torturados e executados, numa repressão marcada pelo silêncio e pela ausência de responsabilização histórica.
Passadas quase cinco décadas, o 27 de Maio continua a ser uma ferida aberta na consciência colectiva de Angola. Muitos ainda aguardam pela verdade, pelo reconhecimento oficial e pela justiça. A dor daqueles que perderam entes queridos permanece viva, agravada pela ausência de memória institucional e pela timidez com que o Estado encara esse capítulo sombrio da nossa história.
No entanto, mais do que alimentar rancores ou abrir espaço para revisionismos simplistas, este momento deve servir como ponto de partida para uma reflexão profunda sobre o papel da memória e da reconciliação na construção de uma sociedade verdadeiramente democrática.
A memória não é apenas um dever para com os que se foram, mas um instrumento essencial para evitar que os mesmos erros se repitam. Uma sociedade que esquece seu passado está condenada a revivê-lo, e é por isso que lembrar o 27 de Maio é um acto de responsabilidade cívica.
O modo como uma Nação resolve as suas contradições internas diz muito sobre o seu grau de maturidade política.
Nas sociedades modernas, o confronto de ideias e interesses é inevitável mas o caminho para superá-los não pode, jamais, passar pela violência, pela exclusão ou pela repressão.
O diálogo institucional, permanente e construtivo, deve ser o pilar da convivência democrática.
Por isso, lanço aqui e hoje, uma proposta simbólica, mas profundamente significativa: que o dia 27 de Maio seja reconhecido em Angola como o Dia da Tolerância e da Fraternidade.
Que esta data não seja apenas uma lembrança do que fomos ou do que se passou , mas um compromisso com o que queremos ser, uma Nação onde as diferenças sejam respeitadas, onde o debate de ideias seja encorajado, e onde a vida humana seja o valor supremo.
Que se fale do 27 de Maio nas escolas, nas universidades, nos meios de comunicação e nas instituições públicas.
Que se homenageiem as vítimas não com discursos vazios, mas com políticas concretas de memória, reparação e inclusão. Só assim faremos jus ao sofrimento de tantos e abriremos caminho para um futuro mais justo, mais tolerante, mais inclusivo e mais humano.
Lukamba Gato