A vulnerabilidade social em Angola

- Repoter 11
- 05 May, 2025
Entre a Riqueza do Solo e a Pobreza das Condições Humanas
Angola é um país de contrastes profundos. Rico em petróleo, diamantes e outros recursos naturais, mas empobrecido no que diz respeito à qualidade de vida da maioria dos seus cidadãos. Esta contradição levanta uma questão central: **por que razão um país tão potencialmente próspero continua tão vulnerável?
1. Vulnerabilidade Económica:
Crescimento sem Inclusão
Após o fim da guerra civil, em 2002, Angola registou um dos crescimentos económicos mais rápidos do mundo, impulsionado principalmente pelo petróleo. No entanto, esse crescimento não foi inclusivo. Grande parte da população continua sem acesso a emprego digno, à habitação condigna e aos serviços básicos. A economia angolana permanece extremamente dependente da exportação de petróleo, o que a torna vulnerável a choques externos, como a queda do preço do barril. Quando o petróleo sofre, o país inteiro sofre — não porque faltem alternativas, mas porque o modelo económico nunca diversificou seriamente. O setor agrícola, por exemplo, continua subaproveitado, mesmo com terras férteis e clima favorável.
2. Vulnerabilidade Social: Um povo abandonado à sua sorte
A vulnerabilidade social em Angola é visível no dia a dia. Basta caminhar pelos musseques de Luanda, onde milhões vivem em condições precárias, sem saneamento básico, sem segurança alimentar e com acesso limitado à saúde e à educação. A juventude, que constitui mais de 60% da população, vive uma crise de esperança. Muitos concluem o ensino médio ou superior e enfrentam um mercado de trabalho estagnado, sem oportunidades reais. Outros nem chegam a completar o ensino básico, presos num ciclo de pobreza herdada. O Estado, que deveria proteger os seus cidadãos, muitas vezes agrava a situação com políticas ineficazes, corrupção sistémica e uma governação distanciada da realidade do povo.
3. Vulnerabilidade Política:
Democracia fragilizada, instituições frágeis
Angola vive sob uma democracia formal, mas na prática marcada por um controlo centralizado do poder, fraca separação entre os poderes do Estado e um espaço cívico frequentemente reprimido. A ausência de uma cultura de prestação de contas, o clientelismo e a concentração da riqueza nas mãos de uma elite político-económica minam os pilares da justiça social. As eleições, embora realizadas, ainda carecem de transparência total, e a participação cívica é desencorajada por meio da censura, repressão de protestos e criminalização de vozes críticas.
4. Vulnerabilidade Ambiental:
Povo exposto, Estado ausente
As alterações climáticas já estão a impactar o território angolano. A seca no sul do país — especialmente nas províncias do Cunene e Cuando Cubango — tem forçado milhares a abandonar as suas terras em busca de água e alimento. A insegurança alimentar agrava-se, e o Estado, muitas vezes, responde com lentidão ou assistencialismo pontual, sem soluções estruturais.
Angola precisa urgentemente de um novo contrato social, onde os recursos sejam geridos com transparência, as instituições funcionem com justiça e o povo seja colocado no centro das políticas públicas. Porque um país rico que mantém o seu povo vulnerável não é só injusto — é insustentável.
Leave a Reply
Your email address will not be published. Required fields are marked *