Qualquer que seja o destino de uma viagem que se pretenda realizar, quer seja por terra, quer seja por mar ou ar, tem sempre o seu cronograma. Por esse motivo, a viagem começa com a sua concepção. Segue-se a planificação. A verificação do estado mecânico do meio de transporte, o decurso e o desfecho que é a chegada ao destino. Mas é o estado emocional de quem dirige, o condutor ou piloto, o garante do sucesso de qualquer viagem.
No primeira quarta-feira do mês de Janeiro de 2022, partimos da pequena cidade do Bailundo, em direcção à Luanda. Eram cerca de 9 horas. Era o regresso à capital do país para a retoma das actividades profissionais depois das celebrações de fim de ano. Como planeado na véspera, e após verificação dos níveis de óleo, calibramos os pneus e abastecemos as viaturas nas localidades de Alto Hama e Quibala; mas fomos parando ao longo da via para revigorar as energias.
Nesse dia, a manhã apresentava-se agradável. Fazia bom tempo para viajar, ligeiramente ensolarado,mas com ameaças de chuvas, previstas apenas para o fim do dia. Estávamos, de facto, no período das chuvas. Tudo podia acontecer. Caírem com intensidade, quando menos se esperava. Como sempre fazíamos, circulávamos a uma velocidade moderada que nos permitia controlar a viatura em caso de situações inesperadas na via. Podia surgir repentinamente um animal. Uma criança a atravessá-la. Um carro estacionado sem sinalização alguma ou mesmo uma viatura a circular sem sinais de presença. Por essa razão, deve-se manter sempre uma velocidade que permita controlar a viatura, e não o contrário.
Pouco depois das onze horas, passámos por Vila Franca do Queve. Uma pequena localidade com bifurcações para Galangue. Tendo conhecido a Vila Franca de Xira, em Portugal, deduzi que fossem portugueses daquela localidade que a fundaram, e que aí se instalaram na época colonial. Enquanto circulávamos paralelos ao rio Queve, passou por nós uma carrinha em alta velocidade. Velocidade suicidária, comentamos.
Horas depois, por volta das 15 horas, encontramo-la, completamente desfeita, antes do desvio para Calulo, num acidente extremamente violento que acabava de ocorrer.
Parámos. Alguns cidadãos, também viajantes, entre angolanos e estrangeiros, já se encontravam no local. Procuravam ajudar como podiam. O ambiente era desolador. Dramático. De morte. Dois corpos completamente desfeitos, semicobertos jaziam no chão, atirados a uns metros da viatura e a mão e o antebraço de uma das vítimas, ficou pendurado na parte traseira do camião, com sangue ainda a escorrer. Foi tanta a violência, que a carrinha retirou o pneu do lado esquerdo do camião, entortando a jante.
Presumivelmente, o motorista, em alta velocidade, que sobreviveu sem nenhum arranhão, pretendeu fazer uma ultrapassagem, na pequena subida que tinha à sua frente, com uma linha contínua bem visível.
Certamente, ao aperceber-se que eram dois caminhões que tinha de ultrapassar, e que um outro veículo pudesse vir em sentido contrário, porque era uma subida, podendo ocorrer uma colisão certa, quis, seguramente, entrar na sua faixa de rodagem.
Tarde demais. Embateu no camião que transportava gado, capotando em seguida. Quem recolhia os destroços, as roupas ensanguentadas e a mão de uma das vítimas, passou por nós e disse-nos que “ espero que esta mão não tenha COVID.”
O excesso de velocidade, o estado das nossas estradas e a não observância das regras de trânsito põem em perigo a vida de quem circula pelas estradas nacionais. Qualquer motorista que se preze deve respeitar os sinais de transito e manter uma velocidade que lhe permita controlar a viatura, e não ser controlado por ela, em excesso de velocidade.
Os reguladores de trânsito devem continuar a fazer a sua parte, redobrando as medidas de prevenção com a utilização de mais radares, a exemplo dos países vizinhos do sul de Angola. De facto, o excesso de velocidade desemboca sempre em situações dramáticas. Perderam-se vidas de dois cidadãos – que se juntam a outras vítimas das estradas – que tinham seguramente os seus sonhos, as suas famílias, as suas expectativas e projectos de vida.
Alcides Sakala