Biografia do Dr. Jonas Malheiro Savimbi – Presidente Fundador da UNITA

Jonas Malheiro Savimbi nasceu no dia 3 de agosto de 1934, na aldeia do Munhango, comuna do município do Cuemba, província do Bié, situada ao longo do Caminho de Ferro de Benguela.
É filho de Loth Malheiro Savimbi e de Helena Nbundu Sakato Savimbi, neto paterno de Sakaita Savimbi e de Kassandali Kambwa Navimbi e neto materno de Kachekele Sakato e de Chikonda Chinakussoki.

Realizou os seus estudos primários na Missão Evangélica do Chilesso, Andulo, província do Bié, e na Missão Evangélica do Dôndi, Kachiungo, província do Huambo. Fez os estudos secundários no Instituto Currie do Dôndi, na escola dos Irmãos Maristas no Bié, e os estudos liceais nos liceus Diogo Cão, no Lubango, província da Huíla, e Passos Manuel, em Portugal.

Desde muito jovem, despertou nele o espírito patriótico e nacionalista, manifestado num discurso que proferiu na igreja da Canata, na cidade do Lobito, em 1958, quando, com outros colegas, se preparava para partir para Portugal a fim de estudar. Na ocasião, declarou, e cito:
“São muitos os angolanos que partem nesta altura para Portugal para estudar; partimos como vossos filhos, filhos de todos os angolanos. Vamos a Portugal para estudar e regressar um dia para libertar o nosso povo e contribuir para o desenvolvimento do nosso país. Não vamos para ficar. Durante a nossa estada, manteremos sempre vivos os valores culturais angolanos.”

Este espírito acompanhou-o ao longo da vida, tendo concluído com distinção o curso superior em Ciências Políticas e Jurídicas na Universidade de Lausanne, Suíça, em 15 de julho de 1965, após ter fugido clandestinamente de Portugal em 1960, devido à perseguição da polícia política portuguesa aos estudantes com inclinação nacionalista.

Como político, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi foi o motor de grandes mudanças ocorridas em várias fases da história de Angola.
Insatisfeito com a realidade colonial do seu país, aderiu à União dos Povos de Angola (UPA) em fevereiro de 1961.

Rapidamente a sua influência fez-se sentir, tendo sido nomeado Secretário-Geral do movimento. A sua capacidade de organização e ação política incentivou muitos jovens intelectuais da época a juntarem-se à UPA, conferindo-lhe novo impulso.

O seu dinamismo político e diplomático contribuiu para a formação da Frente Nacional de Libertação de Angola (FNLA), após a fusão da UPA com o Partido Democrático de Angola (PDA).

Logo após, foi constituído o Governo Revolucionário de Angola no Exílio (GRAE), o primeiro instrumento político-jurídico nacional de oposição ao regime colonial português, onde o Dr. Savimbi desempenhou o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros.

Em 25 de maio de 1963, o Dr. Jonas Malheiro Savimbi participou na criação da Organização da Unidade Africana (OUA), como presidente da comissão de todos os movimentos de libertação de África.

Nessa qualidade, dirigiu um memorando aos chefes de Estado africanos, lido na Assembleia Geral da OUA pelo veterano queniano Onginga Odinga. Esta comissão tinha como secretário o Dr. Mário Pinto de Andrade e como relator o Dr. Július Kianu.

As divergências em torno da visão, forma e método de condução da luta de libertação levaram o Dr. Jonas Malheiro Savimbi a abandonar a UPA, fundando um novo espaço político que culminaria na criação da UNITA – União Nacional para a Independência Total de Angola, em 13 de março de 1966, na localidade do Muangai, província do Moxico. Esta nova organização baseava-se em três princípios ideológicos fundamentais:

a) Manter a liderança no interior do país em contacto permanente com os combatentes e com o povo;
b) Sensibilizar e unir todo o povo angolano na luta contra o colonialismo português e todas as formas de dominação;
c) Confiar essencialmente nas próprias forças.

Após intensa mobilização e formação político-militar na China (Beijing e Nanjing), juntamente com 11 outros quadros, o Dr. Savimbi liderou, em 4 de dezembro de 1966, o seu primeiro combate, no posto colonial de Kassamba, província do Moxico.

Mas foi no dia 25 de dezembro do mesmo ano, no ataque à vila de Teixeira de Sousa, atual Luau, que a UNITA, sob a sua liderança, anunciou oficialmente a sua entrada na luta armada de libertação de Angola.

Este ataque deu à UNITA personalidade jurídica, reconhecimento interno e internacional, bem como legitimidade revolucionária.

Entre os dias 1 e 6 de julho de 1967, o Dr. Savimbi foi detido na Zâmbia, quando angariava fundos para a luta. Foi preso devido aos ataques da UNITA ao Caminho de Ferro de Benguela (CFB). A intenção do governo zambiano era entregá-lo às autoridades portuguesas, o que não aconteceu graças à intervenção do Presidente egípcio Gamal Abdel Nasser, alertado pelo então representante da UNITA na Zâmbia, Sr. Cipriano Kawindima.

Assim, Savimbi foi enviado para o Egito, onde permaneceu por 9 meses em atividades diplomáticas e políticas, antes de regressar clandestinamente a Angola em 28 de julho de 1968.

Foi o único líder dos movimentos de libertação nacional que se encontrava no interior de Angola aquando do golpe de Estado em Portugal em 25 de abril de 1974. A UNITA foi, por isso, o primeiro movimento a assinar o cessar-fogo com as forças armadas portuguesas em Angola.

Com o intuito de promover uma plataforma comum para negociar com Portugal, Savimbi convocou os outros líderes nacionalistas, o que conduziu à assinatura dos Acordos de Alvor, que previa:

O reconhecimento, por parte de Portugal, da FNLA, MPLA e UNITA como representantes legítimos do povo angolano;

O direito à autodeterminação;

A formação de um governo de transição;

A preparação de eleições e proclamação da independência a 11 de novembro de 1975.

No entanto, esses acordos foram violados pela invasão cubana, apoiada pela URSS e pelo Partido Comunista Português, com o objetivo de entregar o poder ao MPLA, excluindo os demais movimentos.

Perante a iminência de um conflito, Savimbi procurou incessantemente a paz e tentou reunir os movimentos nacionalistas nos encontros de Nakuru (Quénia) e Kampala (Uganda), embora este último tenha contado apenas com a presença da UNITA.

Expulsa de Luanda, a UNITA proclamou a independência de Angola em Huambo, como República Democrática de Angola.

Mesmo assim, Savimbi procurou apoio junto de líderes africanos, como Mobutu, Nyerere, Ngouabi e Kaunda, reunidos em Bukavu, em dezembro de 1975.

Com a queda de Huambo em fevereiro de 1976, Savimbi apelou à resistência popular contra o expansionismo russo-cubano. Promoveu conferências políticas, congressos da UNITA e a criação do CECKK – Centro de Estudos Comandante Kapessi-Kafundanga, o que resultou em mobilização nacional, alianças internacionais e vitórias que levaram aos Acordos de Bicesse, assinados a 31 de maio de 1991 em Portugal.

Apesar da sua aceitação dos resultados das eleições de 1992 e do envio de representantes para o governo de unidade (GURN), a segunda volta presidencial nunca se realizou. Vários dirigentes da UNITA foram assassinados, incluindo o vice-presidente Jeremias Chitunda.

O MPLA lançou em 1998 a Operação Restauração, cujo objetivo oculto era eliminar fisicamente Jonas Savimbi. Apesar disso, o Dr. Savimbi, em conferência à beira do rio Kunguene, apelou à reconciliação interna no seio do partido.

Mesmo com sanções internacionais e guerra assimétrica, Savimbi buscou paz com apoio da CEAST e da comunidade Santo Egídio.

Contudo, o então Presidente José Eduardo dos Santos declarou que a única saída para Savimbi era rendição, captura ou morte.

Fiel aos seus princípios, ao povo e ao país, Dr. Jonas Malheiro Savimbi nunca se rendeu, nem se exilou, preferindo morrer ao lado do seu povo, o que ocorreu em combate no dia 22 de fevereiro de 2002, na localidade do Luvuei, comuna do Lukusse, província do Moxico.

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